Transformação digital: 4 coisas que você deve saber
O termo “transformação digital” tem sido usado cada dia mais e sem nenhuma moderação. Cresce na carona de uma Modernidade Líquida, termo cunhado pelo polonês Zygmunt Bauman, para descrever um contexto social, cultural e econômico volátil e em constante metamorfose.
As verdades de ontem não necessariamente são as mesmas de hoje e provavelmente não serão as de amanhã. Deu nó? Não se preocupe. É parte do processo de adaptação.
E não importa sua profissão ou em que ramo de negócio você trabalha, nem sua idade ou posição econômica e social. Independe também da sua área de atuação e nível hierárquico. Acredite, o mundo sempre foi assim. Mudanças e transformações são parte de nossa história.
A grande diferença que vivemos, em nossos tempos, é o ritmo e velocidade dessas mudanças. Nossos pais viveram tempos diferentes de nossos avós. Nós, em um mundo com cada vez mais acesso a tecnologias digitais, temos avançado num ritmo nunca antes experimentado. Diferente das gerações anteriores, conseguimos perceber grandes transformações dentro de nosso próprio ciclo.
Mas não se preocupe. Sugiro substituir qualquer eventual receio, que terá efeito paralisador, pela curiosidade, que terá efeito mobilizador.
Vou usar um exemplo de como nossos hábitos se transformam e às vezes mal notamos. Pense no Uber, que surgiu como algo inusitado. Torcíamos o nariz desconfiados para adotá-lo, mas pouco a pouco, mais e mais pessoas foram usando, recomendando e hoje essa forma de mobilidade já está incorporada à nossa rotina.
Observando artigos, eventos e discussões sobre o tema transformação digital, fiquei com uma imagem de um barco sem bússola, em que cada passageiro está remando para um lado diferente. Assim, peço sua licença para propor uma reflexão sobre 4 fundamentos de uma transformação digital.
Fundamentos que derivam de uma jornada de 20 anos liderando transformações digitais em organizações multinacionais, associações, eventos, palestras, livros e em especial de um olhar sempre curioso sobre esse mundo líquido, que insiste em não parar de evoluir e ser diferente a cada novo amanhecer.
1. Precisa haver uma razão geradora
Entrar em um processo de transformação digital sem entender o porquê é muito perigoso. “Vou fazer porque preciso fazer” ou “Vou fazer porque meu concorrente fez” ou ainda “Vou fazer porque há um mandato da liderança da empresa” não são razões geradoras. Cuidado!
O risco de iniciar um processo sem uma razão geradora correta é o de entrar “mais ou menos” convencido nesse processo e ver um consumo de recursos, alinhamentos sem fim e potencial frustração.
A razão geradora, na minha opinião, deve ser externa ao negócio.
Questione:
Meu negócio existe para servir a quem?
Quais comportamentos e dores do meu cliente?
Como posso servi-lo?
As organizações modernas e que tanto admiramos têm seu foco no cliente, nas pessoas, e não em seus serviços ou produtos. Se a Kodak ou Blockbuster tivessem feito essas perguntas, talvez estivessem ainda no mercado.
2. É um tema de negócios e não de tecnologia
Quem tem mais de 35 anos vai lembrar que nos anos 1980 e 1990 houve um boom do Marketing de Relacionamento, quando plataformas tecnológicas eram adquiridas com um apetite insaciável. Chegou um momento em que elas não conseguiam mover o ponteiro do negócio e tudo caiu por terra.
A tecnologia é importante, porém como meio e desde que esteja a serviço do negócio, que está a serviço das pessoas. Ser o mais avançado tecnologicamente em algo de nada vale se não se consegue extrair um valor tangível e percebido pelas pessoas.
3. Tem início, meio, mas não tem fim
Vejo empresas, consultorias e profissionais tratando a transformação digital como um projeto. Cuidado! Se vivemos em um mundo líquido, em constante evolução, como essa transformação pode ter fim?
Existe apenas porta de entrada para um processo vivo e mutante. O mundo, o mercado, os concorrentes, as tecnologias, as pessoas, enfim todo o contexto irá mudar com o tempo. Melhor investir energia e preparar sua organização para ter agilidade em adaptar-se a novas realidades versus ficar tentando prever centenas de cenários que do dia para a noite mudam completamente.
Se tivesse uma cadeia de hotéis, como poderia me preparar para algo como Airbnb? Novos concorrentes e tecnologias surgem todos os dias.
4. Se fundamenta em uma transformação cultural
Ainda dentro do tema tecnologia, acredito que não se dê a devida importância ao elemento principal e basilar para qualquer transformação digital: eu, você, nós. As pessoas.
Elas serão a principal barreira ou facilitador de qualquer processo de transformação. Juntas, elas formam a cultura de qualquer empresa. O pensamento de Peter Drucker de que “Cultura come estratégia no café da manhã” é real, acredite.
A transformação das pessoas será, portanto, fundamental para qualquer esforço de transformação digital. Mas cuidado para não cair na armadilha de que temos aqui um desafio geracional. Não é. É puro mindset. Existem profissionais de vinte e poucos anos mais conservadores que outros de quarenta e poucos.
Espero ter conseguido gerar boas reflexões com os pontos acima.
Alexandre Waclawovsky | Wacla | Associado na Amélie Consultoria*
Fonte: Texto originalmente publicado aqui
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